quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

III

Quando dormes cavalos derramam-se da noite
Sobre o teu peito liso e o galope dos animais
Dispersa a escuridão onde o sono conduz
A sua máquina poderosa rasgada da minha cabeça
E sem o menor ruído

O sono faz tantos membros florir dos teus pés
Que eu tenho medo de morrer estrangulado pelos seus gritos.
Decifro na curva da tua frágil anca,
Antes que desapareça, um rosto puro escrito
Em azul na tua pele branca.

Mas caso um carcereiro te desperte minha terna ladra
Enquanto lavas as tuas mãos - esses pássaros que voam
À volta do teu bosque carregado das minhas dores -
Quebras com doçura o eixo das estrelas
Sobre o teu rosto em lágrimas.

O teu ritual fúnebre tem gestos gloriosos
A tua mão que lançou a semente dos raios.
O teu maillot, a tua camisa, e o teu cinto preto
Espantam as minhas células e deixam-me mudo
Diante um belo marfim.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

II

Sou trancado dentro de mim, e para sempre,
Por este guarda de vinte anos!
Um só gesto dele, o olho, os cabelos na boca:
O meu coração abre-se e o guarda
Prende-me cá dentro, em festivas lágrimas.

Mal é fechada com bondade demais
Esta maldita porta
E já tu regressas. Perseguido pela tua perfeição,
Vejo agora contado o nosso amor
Pela tua boca que canta.

Este tango acutilante que se ouve na cela,
Este tango das despedidas.
És tu, Senhor, sobre este ar radiante?
Por caminhos secretos a tua alma terá ido
Para escapar aos deuses.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

I

Resta um pouco de noite num canto a definhar.
Em golpes duros na timidez do céu, cintila
(Os suspiros presos pelas árvores do silêncio)
Gloriosa uma rosa por cima do vazio.

Pérfido é o sono onde a prisão me leva
E os meus corredores secretos mais sombrios ficam
Iluminando os marinheiros que bem matam
Este tipo altivo que nas suas florestas se embrenha.